
Um dia quando fui devolver um livro na biblioteca da fafich, vi um pequeno livrinho na estante, cujo título era "jornalismo cultural". Na hora não pude pegar o livro emprestado, mas depois voltei lá e peguei.
Eu já fiz teatro na escola, já fui do coral, já fiz oficina de fotografia, gostava das aulas de educação artística, tentei aprender flauta doce, aprendi alguma coisa de teclado e tive uma única aula de violino.
Eu devo minha paixão às artes, primeiro a mim mesma (claro, paixão é uma coisa que brota de dentro da gente), mas também à minha ex professora de educação artística, teatro, coral (a míriam, lá de Montes Claros). Mesmo trabalhando numa escola, com crianças e adolescentes que não levavam as coisas muito a sério, ela se entregava muito ao que fazia, mergulhava de cabeça nas suas idéias, e eu acabei querendo ser assim.
O problema é que me fizeram acreditar (ou eu mesma fiz isso, não sei), que eu não tinha talento pras "artes". E fui deixando tudo de lado, sem me aprofundar em nada. Mas aí me falaram que eu escrevia bem, e eu vim parar no jornalismo. E empolguei com esse tal jornalismo cultural, porque é uma forma de estar bem perto do que eu gosto (arte). Mas continuo achando que não sei muita coisa sobre arte.
Mas isso não significa que eu não tenha bom gosto. Por isso, ainda tenho esperança de poder dar minha opinião sobre o que é produzido por aí.
Descobri recentemente minha paixão pelo folclore. E pelo teatro que utiliza técnicas circenses. Descobri isso depois de ver o grupo galpão na praça da cadetral (em montes claros), na globo (num seriado que passou na páscoa, há um certo tempo), e depois de ver "hoje é dia de maria".
Infelizmente, por motivos alheios à minha vontade, não vi a segunda jornada da série. Mas o que vi da primeira foi bastante pra dizer que, dessa vez, a globo acertou em cheio. Pra começar o elenco era muito bom (O diabo e a Maria foram uma "dulpa" tanto). Depois o cenário, bem teatral mesmo, diferente daquela coisa de minissérie, novela e tudo que há na tv. As músicas eram lindas o enrendo puro folclore. Quando vi aquilo, pensei estar de novo nos anos 60, quando se transmitia teatro pela TV. "Hoje é dia de Maria" é absolutamente teatral e folclórico, a melhor minissérie que já vi (não só na globo), diferente de tudo. E o mais legal é que o povo gostou! Gostou tanto que a globo teve que repetir a dose.
Dizem que o povo não gosta de cultura, mas isso não é verdade. O problema é que cultura parece estar apenas nos filmes do tarantino, do Kubrick. A cultura está em todo lugar. E que coisa linda é a cultura popular, os congados e reinados do nordeste, os catopês, O banzé( grupo de dança), o museu do folclore (tudo isso de Montes Claros), os livros do Graciliano Ramos, o artesanato da beira do são francisco, as carrancas (as carrancas são feias, mas são arte), zé coco do riachão. O nordeste tem cultura, tem gente que produz, tem história pra contar.
Por detrás daquela seca, se esconde um mundo maravilhoso, que infelizmente está se perdendo.
Porque "esse povo da capital" (sem querer generalizar, mas já generalizando), acha que cultura é só a osquerta sinfônica tocando no palácio das artes (isso também é legal, mas é só um lado da moeda), e isso influencia o povo do interior, que acha que cultura tá lá longe, na capital e não dá valor ao que tem.
Uma pena!
Eu espero poder colaborar de alguma forma, a resgatar a cultura do meu povo. Por enquanto vou lendo "jornalismo cultural" e apredendo que o popular nem sempre é pop, o pop às vezes é popular e a cultura é pop, popular ou erudita, mas está em todo lugar.
p.s.: Montes Claros todo ano tem o "festival internacional do folclore", que traz grupos de dança folclórica de várias partes do mundo (china, arábia, polônia, uruguai, chile, entre muitos outros), e de vários estados do país. Sempre que posso eu vou. O público adora, e a platéia sempre lota.
p.s.2: desculpem o regionalismo, mas eu amo a minha cidade e preciso mostrar pro "mundo" que lá tem muita coisa legal.