domingo, março 30, 2008

La belle mer


Talvez ela sempre soubesse que ia ser assim. Mas quis se arriscar mais uma vez. Afinal, ficar sentada na areia vendo as ondas irem e virem não era assim tão ruim. Mas não comparado à aventura de enfrentar o mar. Aquela água inquieta tentando derrubar tudo que vem na direção contrária, aquele chão instável que, vez ou outra, ainda tinha uma alga chata pra incomodar, o sal enrugando ainda mais a pele...

Mas ela já sabia que nunca se dava bem com o mar. Nunca conseguia vencer as ondas, acabava sempre levando mais um caldo. Mas quis insistir. Pensou que se tomasse cuidado talvez conseguisse enfrentar todos os obstáculos e sair ilesa da água. Cansou da areia e pensou que era hora de tentar de novo.

E até achou que estivesse indo bem... Quando o chão embaixo de seus pés se desfez pela primeira vez não desanimou, continuou em frente, enfrentando as ondas. Mas a maré começou a subir, as ondas ficaram mais fortes e o caldo foi inevitável. Então se convenceu de que realmente não sabia lidar com toda aquela água ao seu redor. Resolveu que não ia mais voltar. A areia, na verdade, era melhor. E ela e o mar nunca iam se entender. (Pelo menos até ela se cansar da areia mais uma vez...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Dica de leitura: 'Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres', Clarice Lispector. Ela é estranhona, mas o livro, se você superar o peso da narrativa, vale muito.

Boa sorte com o mar.