sexta-feira, agosto 10, 2007

Sobre balões e amigos


Enquanto decidia se escrevia sobre a coisa estranha que sentira enquanto estava no shopping ou sobre a distância repentina que sentia de pessoas próximas, lixava as unhas e escutava suas músicas preferidas (as melancólicas, que sempre tocam no momento mais inconsolável do filme).

A questão é que fora passear no shopping e, no meio da escada rolante, olhou para uns balões no andar superior e desvendou o mistério da vida. Eram balões metálicos, em forma de golfinho ou algum personagem de desenho animado. Apenas flutuavam estáticos, presos por uma corda. A escada no meio do nada, os balões sorrindo e as pessoas vivendo.

A outra questão era que não reconhecia mais ninguém. Sentia-se distante o tempo todo. E sempre que chegava naquele prédio, que foi o começo da parte mais interessante de sua história, sentia vontade de voltar no tempo, ou simplesmente sair correndo. Não é que não visse mais ninguém. Mas não sabia explicar. Agora apenas ia lá e não entendia mais para quê.

Por fim decidiu não escrever sobre nada. Terminou de lixar as unhas e continuou ouvindo as mesmas músicas, enquanto tentava fazer o que faziam as pessoas e os balões: viver e sorrir.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Insônia


Tinha medo daquela hora em que todas as luzes se apagavam e toda a rua ficava silenciosa. Era como se, de repente, alguém falasse: hora de dormir! E por isso ela não conseguia. E ficava acordada (como quando se é criança e alguém te manda ficar sentado, e só de pirraça você levanta). Então apagava a luz. Acendia de novo. Colocava uma música pra tocar. Desligava. Bebia água. Contava carneirinhos - eles sempre batiam a cabeça na cerca, e se pulassem mais alto, a cerca aumentava de tamanho. Virava para um lado. Para o outro. Abria a cortina. Fechava a janela.

Por descuido, adormecia. Mas depois de alguns minutos de sono, era como se lhe faltasse ar. E acordava assustada. Ou então tinha pesadelos. Nunca lembrava exatamente o quê. Mas acordava assustada. E quando tentava adormecer mais uma vez... Mais uma vez o ar lhe faltava.

Então, depois de uma longa batalha contra a noite e o silêncio, quando finalmente conseguia dormir em paz, o sol mostrava que ia nascer, e era de acordar...